sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Para cada fase uma dose diferente

*Camila Macedo


Para os brasileiros a vida escolar normalmente começa aos três anos de idade, no maternal. Tudo é mágico nesse período, após a adaptação da criança. É o momento em que ela começa a caminhar com as próprias pernas e comer com as próprias mãos, literalmente. O papel do professor é de extrema importância. É como se o educador se tornasse personagem de um grande espetáculo, que está apenas começando.

A criança inicia a construção de sua identidade seguindo os exemplos que estão a sua volta. A pedagoga Marilda Honorato destaca a importância da afetividade nesse mundo tão violento. Marilda trabalha há 15 anos com educação infantil e ensino fundamental, em uma escola particular de Ubá. Ela sempre pede às professoras que trabalhem com muita afetividade e dialoguem bastante, para estimularem o amor, a amizade, o carinho e o companheirismo. “As crianças veem TV, usam computador, e estão ligadas a tudo que acontece. Já chegam à escola comentando o que viram nos noticiários. Elas ficam chocadíssimas”. Para driblar os efeitos negativos da mídia, Marilda investe em aulas de filosofia para as crianças.

Escola é lugar de alfabetizar, filosofar, estimular a arte, o respeito ao próximo, ao ecossistema, enfim, formar cidadãos. Descobrir o caminho mais adequado é um desafio diário. Cabe a cada profissional encontrar o segredo de cada fechadura. “Tem que ter muito amor, muita paciência. Tem que gostar muito para trabalhar aqui”. Esse é o segredo de Alessandra Marques, pedagoga que trabalha na APAE de Ubá há 20 anos.

Não importa a idade do aluno. Para conseguir disciplina, respeito e motivação, uma coisa é certa, o professor tem que entrar na dança. Alessandra conta um pouco da rotina na educação especial, que é voltada para atividades lúdicas. O cotidiano envolve brincadeiras, jogos, material concreto e artes. Poesia e música, por exemplo, estimulam a espontaneidade e a criatividade. Ela destaca também a repetição do conteúdo para fixar o que é trabalhado em sala de aula.

Tudo indica que os pais aprovam o trabalho da APAE. Uma das mães, Rita Aparecida Fortunato, manifestou satisfação com o desenvolvimento do filho de cinco anos, que começou a estudar nessa Instituição no início de 2011. Segundo ela, o menino melhorou muito. A professora contou que seu filho ajuda a organizar a sala e chama os coleguinhas para a fila. Ele está mais prestativo e concentrado, mas ainda é um pouco agressivo. “Não tem nada melhor que ver seu filho bem tratado, porque tem gente que não tem paciência e não entende a necessidade da criança”. A mãe contou que ele estuda e faz tratamento ao mesmo tempo, com psicólogo, psiquiatra e fonoaudiólogo.

Os pais entrevistados costumam acompanhar a vida escolar dos filhos e consideram fundamental a integração entre família e escola. Lívia Oliveira tem um filho de cinco anos e se diz muito participativa. “Vou a todas as reuniões e converso com ele, incentivando-o sobre o quanto o estudo será bom para o futuro dele. Mas gostaria de ser mais ouvida pela escola”. Não são somente os pais que veem a integração como algo positivo. É como a pedagoga Alessandra Marques disse: “família e escola têm que andar juntas. Se a escola prega uma coisa e a família outra, cai tudo por terra”.

Pelo visto o educador tem que rebolar. Em meio a tantos alunos, personalidades e desejos, os professores ainda conseguem identificar o perfil de cada um, como declarou Marilda Honorato (a pedagoga da escola particular). Ela afirma que o convívio diário permite que o professor acompanhe o desenvolvimento de cada um. “Avaliação com nota é uma forma de mostrar para os pais como está o desempenho de seus filhos, o professor já sabe”.

PERSPECTIVA E EXPECTATIVA

Dar aulas exige muito jogo de cintura. Raul Carneiro, que é professor de ensino médio e graduação há sete anos, revelou a forma como mantém domínio de sala. “Uma carteira de escola funciona como um canal de comunicação. A gente sabe que a comunicação e, consequentemente, o aprendizado, só ocorrem quando há sedução. Sedução é uma espécie de ligação invisível”. Segundo ele, no ensino médio espera-se muito do professor, já no superior, espera-se muito do aluno. A principal diferença desses níveis de ensino é a perspectiva do professor e a expectativa do aluno. “O caminho é o mesmo, o jeito de caminhar que é diferente”.

Quanto mais sensibilidade o professor tiver para perceber as necessidades dos alunos, melhor será a aula. Sandra Zócoli destaca aspectos positivos e negativos que percebe na escola da filha de 16 anos, que cursa o ensino médio na rede pública de Ubá. Sandra cobra que ela estude, faça os trabalhos, “essas coisas de mãe”, como ela disse. “Minha filha conta que alguns professores lançam matéria sem dar explicação adequada do conteúdo. Isso é errado”. Ela afirma que existem aulas muito proveitosas, com interação entre os alunos e o professor. “Nas de biologia fazem uso de laboratório. Isso é ótimo para eles”, finalizou Sandra.

No ensino superior o processo educacional é diferente. Os acadêmicos precisam ser mais independentes e em alguns casos, autodidatas. João Paulo Ciribeli, hoje professor de graduação em instituição particular na cidade de Ubá, estudou em universidade pública. “Os professores não detalhavam a matéria. Muitas vezes as dúvidas eram sanadas com os próprios colegas de turma”. João Paulo reconhece que seus alunos se dedicam pouco aos estudos.
Em nossa conversa o professor ainda revela, “uma coisa é certa, nem o aluno da federal, nem o da particular está preparado para o mercado de trabalho”. E acrescenta, “O curso de graduação por si só não é suficiente para atender às necessidades do mercado”. Assim, ele deixa evidente que a continuidade dos estudos é fundamental para a qualificação profissional.

O mundo acadêmico gera controvérsias por parte dos calouros. Débora Cristina Costa revela que antes de entrar para a faculdade achava que o ensino era mais puxado. Ela cursa o segundo período de Educação Física em instituição particular na cidade de Ubá. “Fiquei aliviada, porque não existe a cobrança que eu pensava”. Débora está gostando do curso, mas não compreende o pensamento de alguns colegas. “Tem alunos que acham que estão aqui para virar atletas e não para se tornarem educadores físicos. Isso atrapalha um pouco as aulas”.

EDUCANDO SONHOS

Então, qual o segredo para se tornar o educador dos sonhos? João Paulo Ciribeli conta a história de um excelente professor, que transformou o sonho em uma realidade fantástica. “O que marcou uma fase da minha vida escolar foi a tática de um professor que tive no ensino médio. Era uma mistura de domínio de conteúdo com divertimento. A própria admiração pelo professor fez com que a gente se interessasse mais pelo conteúdo”. Isso reforça a “sedução” citada por Raul.

“Acertar rumos” é uma das funções de um professor, como disse Raul Carneiro em entrevista. “‘Ruídos’ acontecem. Há momentos em que o planejamento de uma aula simplesmente não acontece, e o professor tem que adaptá-lo. Qual foi o problema? Formato, conteúdo, dinâmica, enfim, acertar rumos”. Flexibilidade é a palavra chave.

O interessante é transformar o contratempo num momento único e mágico. A vida acadêmica é cheia de detalhes inesperados, e o professor tem em mãos o poder de transformar os imprevistos em possibilidades. Afinal, como dizia Guimarães Rosa, “professor é aquele que, ensinando, de repente aprende”, e o
verdadeiro educador é aquele que aprende todo dia.

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