quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Um amor bandido ( Texto inspirado na música I'd Rather Go Blind - Etta James )

*Diogo Andrade
  
  O clima estava denso na sala onde os dois conversavam.
    - Eu sabia John, eu estava sentindo que algo assim ia acontecer!
    - Não foi nada pensado! – ele realmente queria fazê-la acreditar em tal mentira. – Eu te amo Isabela, não posso ficar sem você.
    Ela o olhou com repulsa, sabia que ele tentaria de todos os modos se desculpar. De repente sua boca ficou seca, e algo pulsou dentro de sua cabeça. Aos poucos a raiva a dominou.
    – Como não, John? Eu preferia ficar cega a ver vocês dois juntos! Eu tinha certeza, eu tinha! – ela disse. Apalpou o copo em que ele bebia. Dentro dele, meia dose de um conhaque barato. Deu uma golada matando sua sede. – Eu sabia que tinha acabado. Eu senti, eu previ isso. Algo dentro de mim mudou naquele exato momento, vocês dois, juntos, conversando, sozinhos!
    Ela segurou o recipiente com raiva, experimentou novamente um pouco da bebida e o ergueu no ar observando-a escorrer pelo copo. Era vermelha como sangue. Em um reflexo borrado, ela viu lágrimas escorrendo por seu rosto, parando em seus lábios salgando sua boca.
    – Olha o que você fez comigo!
    Ele tentou negar mais uma vez, no entanto os dois sabiam a verdade. O coração dele se apertou ao vê-la sofrer.
    – Eu quero que você morra! – Num ímpeto de fúria ela jogou o copo em sua direção. O vidro se espatifou em sua cabeça, e a bebida escorreu por seu rosto misturando-se ao sangue.
    Ele se debateu tonto pelos móveis.
    – Aí, aí, está ardendo. Minha cabeça! –  gritou desesperado. – O que você fez comigo?
    Ela, já bêbada, sentou-se no sofá e o observou sofrer. Um sorriso discreto se alojou em sua face, estava se divertindo.
    Ele, bruto, forte, homem, sentou-se ao lado dela com um saco de gelo na mão direita, e outro copo cheio na esquerda. Sem nada dizer ela pegou o gelo, virou com força sua cabeça até ver o machucado e o colocou lá.
    John engoliu de uma só vez o líquido e deitou-se no colo dela.
    – Você sabe que te amo, Isa!
    – Fique quieto.
    Ele estava inconformado de perdê-la, ele a amava.
    – Isso não é justo, foi só um beijo. Ela era gostosa amor! – ele sorriu.
    Isabela apertou o gelo em sua cabeça.
    – Aí amor, com cuidado!
    – Seu idiota. – O ferimento tinha estancado. Ela foi até uma das gavetas, pegou uma pomada e um bandaid, não tinha sido tão grave. – Vou embora!
    Ele levantou-se do sofá, a seguiu cambaleando até a porta, ela o segurou nos braços. Seu hálito forte não a incomodou, pelo contrário, a deixava excitada.
    – Vai ter mesmo coragem de me deixar aqui, sozinho, machucado, no frio?
    – Chame-a para ficar com você, o que acha? – suas sobrancelhas se arquearam.
    – Ah... Agora quero ter uma mulher, não uma garota. Você é meu verdadeiro amor. – disse através de um meio sorriso. – Você sabe que eu te amo, não sabe?
    Ela assentiu e o perdoou. Ambos foram fogosos para o quarto sem mesmo limpar os cacos no chão. Eles se amavam, e não tinha sido a primeira vez. Os dois se envolveram no fogo de uma paixão conturbada e fugaz. Ela sabia que ia acontecer de novo, e de novo. Era só uma questão de tempo, mas de todo jeito lhe parecia certo desfrutar daquele desejo apenas por mais uma noite, ou duas, ou três...

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