quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Carta a “alguém” que não sabe o que é amar

*Amanda Lelis

Um dia você estará sozinha, vai fechar os olhos e tudo estará negro. Os números da sua agenda passarão claramente na sua frente e você não terá nenhum para discar. Sua boca vai tentar chamar alguém, mas não haverá alguém solidário o bastante para sair correndo e te dar um abraço, nem te colocar no colo ou acariciar seus cabelos até que o mundo pare de girar. Nessa fração de segundos, quando seus pés se perderem do chão, vai se lembrar da minha ternura e do meu sorriso infantil. Virão súbitas memórias gostosas dos meus abraços e beijos, da minha preocupação com você, mas só terão algumas músicas repetindo no seu rádio: as nossas.


Em um novo momento você vai sentir um aperto no peito, uma pausa na respiração e vai torcer para ter o nosso mundinho delicioso de novo. O nome disso é saudade, aquilo que eu tinha tanto e te falava sempre.
E quando você finalmente discar meu número, ele estará ocupado demais, ou nem será mais o mesmo, ou até eu nem queira mais te atender. E se você bater na minha porta ela estará trancada, e se aberta, mostrará uma casa vazia.



Seus olhos te ensinarão o que são lágrimas, aquelas que eu te disse que ardiam tanto. O nome do enjôo que você vai sentir é arrependimento, e a falta de fome que virá chama-se tristeza. Então, quando os dias passarem e eu não te ligar, quando nada de bom lhe acontecer e ninguém te olhar com meus olhos encantados, você encontrará a famosa solidão. A partir daí o que acontecerá, chama-se surpresa, e provavelmente o remédio para todas essas sensações, é o tal tempo em que você tanto falava.

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